"Passamos a vida a cuidar de nós próprios, a recolher, a guardar, a olhar para um lado e para o outro e, ao mesmo tempo a correr, a correr desesperadamente, a correr como se estivessemos numa daquelas gincanas em que é preciso equilibrar o ovo na colher de pau. E por vezes ficamos fartos do ovo, enjoados, e nessas alturas preferimos fazer um pacto com o diabo, com aquilo a que chamam as forças obscuras que correm de colher na mão, sem tirar os olhos do ovo, temendo pelo ovo. O homem é frágil e precário, precisa de tudo nas doses correctas - água, ar, alimento; não pode comer tronquinhos e pedras; tem de impedir que os seus ossos se quebrem e que a sua gordura derreta. Isto e aquilo. Armazena açúcar e batatas, esconde dinheiro debaixo do colchão, resguarda os seus sentimentos sempre que pode, esforça-se, toma precauções. Isso, poderia dizer-se, a bem do ovo. Então, morrer é deteriorar? Estragar? E o juízo final o derradeiro teste? Leventhal riu e esfregou a cara. Havia também o oposto, jogar à apanhada com o ovo, ameaçar o ovo."
Saul Bellow, "A vítima"
E continuo assim a encher a pedra com sapatos...
02 junho 2006
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