02 junho 2006

Chicala-Paraíso


Intro.

A Chicala é uma zona residencial de Luanda. Fica do lado esquerdo depois de se apanhar a estrada para a ilha de Luanda. Mas essa zona residencial tem uma casa muito especial. Uma casa sem nome que todos chamam de Chicala. A casa é uma casa típica portuguesa dos anos 70, com dois andares e um pequeno pátio à frente. Até aqui tudo normal, não fosse esse mesmo pátio ficar cheio de pessoas todas as sextas e sábados à noite.

E porquê? Porque o dono da casa, o Rui Jorge é um músico cabo-verdiano nos seus 60 anos que gosta de juntar os seus amigos e tocar para quem lá apareça. E o problema é que a maior parte dos seus amigos são grandes músicos. Músicos sem nome, a fazer lembrar os “unknown soldiers” do Buena Vista Social Club, homens sem fama e muitos sem muito mais que um tecto onde viver. Homens para quem uma medalha entregue por representantes do governo cabo-verdiano aquando da sua última visita ao seu país natal constitui o seu único tesouro. Ouvir o homem da rabeca contar-me como recebeu essa medalha e ouvir a sua descrição da mesma foi um dos momentos de maior intimidade vividos em Angola.
A experiência do Chicala é única. É como encontrar um paraíso no meio de um país que agora desponta para as vontades ocidentais de música bruta e alta, onde as pessoas se perdem pelo meio dos sons grotescos da noite fácil. Contrastando com a tendência da aculturação ao ocidental, aqui todas as noites são especiais. As pessoas são afáveis, rolam conversas à volta de cervejas, as pessoas interagem umas com as outras sem saber muito bem porquê, unidas apenas pelos sons da guitarra do Rui Jorge e da voz do querido Manduka.

Claro que a experiência social do Chicala não passa só por momentos de grande deleite espiritual, e é óbvio que tem os seus segredos obscuros… Esses revelarei em capítulos próximos.

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