Parte I
Da Cultura
A música cabo-verdiana que toca no Chicala merece ser ouvida. Tem nos seus melhores dias e nas melhores horas da noite bons intérpretes. Nos outros tem arrivistas, se é que lhes podemos chamar assim, que gostam de tentar uma mistura de canto, com graça com álcool e o resultado quase sempre é uma triste figura. Nalguns casos gera momentos de humor, mas de humor categoria B que tanto pode ser experimentado no Chicala como noutro sítio qualquer. Cantores que gozam com o fado misturando o de forma brejeira nas melodias cabo-verdianas que saem da guitarra do Rui Jorge. Cantores que gritam e esbracejam para esconder a sua falta de capacidade de cantar e por aí fora. Nessas alturas é quando a conversa rola com menos medo de interromper o que quer que seja.
No entanto, e mesmo nessas alturas, os músicos levam-se muito a sério e sentem-se ofendidos com tal afronta.
Dizem-me outros cabo-verdianos, que os músicos da sua terra gostam de sentir a importância que têm e gostam de usufruir do seu estatuto. Gostam de parar durante vinte minutos ao fim de três músicas e fingir que afinam instrumentos. Gostam de mostrar que já estão esgotados do serviço que prestam antes ainda de ter passado meia-hora da prestação. É este o lado mais obscuro do Chicala. É que muitas vezes estas pausas ou ofensas geram burburinhos no público e acabam por gerar confrontos desnecessários e ofensas próprias de noite avançada. Verdade é também, que só uma vez vi estes arrufos acabar mal. Mas mancham com nódoa de vinho o estatuto sublime de outra forma inteiramente merecido.
07 junho 2006
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