16 fevereiro 2007

Falta uma nova liderança ao Bloco

Há uma verdade para mim incontornável, que é a de que todos os políticos têm o seu tempo. A meu ver existem 3 condicionantes principais que podem encurtar o tempo de cada político, ao causar mais desgaste à sua imagem.

1. A mensagem que cada líder tenta passar, e a maneira como o faz. Como Louçã sempre teve um estilo muito agressivo, frontal e de confronto, e a sua mensagem sempre foi uma de ruptura para com os poderes instituídos, a sua imagem desgasta-se mais rapidamente do que a de um político mais comedido, como por exemplo Blair.

2. Natureza do partido- Sendo o BE na minha opinião um partido mais vocacionado para causas específicas do que para assumir o poder( partido catch-all), o seu líder tem de ser alguém que não se preocupe em agradar a gregos e troianos. Louçã cumpriu o seu papel muito bem e fez do BE um partido credível, capaz de ombrear com os tradicionais 4. Ao expor-se tanto... teve mais desgaste.

3. tipo de eleitorado- O eleitorado base do BE é muito variável, o que faz com que seja mais importante ainda que a imagem e mensagem do líder não perca o sentido. Passo a explicar. Por exemplo a base de apoio do PCP é constante e de certo modo imutável. São os velhos operários, o Alentejo rural.... São pessoas que toda a vida apoiaram o partido...
O CDS é apoiado pelos Burgueses, Cristãos e por todos aqueles que desejam que o Salazar seja considerado o maior Português.
Mesmo o Psd e o PS têm uma base de apoio mais segura que o BE. Apesar de serem partdos catch-all ( dirigidos a todo o eleitorado) têm bases de apoio sólidas que vêm do seu trabalho desde 74. Desde os Soaristas que são leais devido ao facto de termos entrado na Europa pela sua mão, e que continuam a votar PS, aos saudosistas que vêem na morte de Sá Carneiro uma justificação para votar PSD ad eternum.

O BE não tem na sua base de apoio lealdade construída através da força de hábito como todos os outros partidos têm. A base de apoio do Bloco consiste na juventude insatisfeita com o rumo e as alternativas presentes, nos intelectuais que desejam outro modo de serem governados, ou na população dos centros urbanos que deseja com o seu voto manifestar desagrado para com os poderes instituídos.

Devido à falta de um apoio constante, o líder tem um papel mais importante. Se é um facto que grande parte do que é o BE hoje deve-se sem dúvida à liderança capaz de Louçã, não deixa de ser verdade também que a sua liderança já perdeu a pujança e a novidade de outros tempos, o que a meu ver enfraquece acima de tudo o partido.

Louçã acordou o País com a sua crítica inteligente e incessante, mas agora a liderança necessária é outra. A recente campanha do aborto mostra claramente que Louçã se está a desfazar da realidade e a disparar para todos os lados sem sentido. Primeiro usa a palavra terrorismo na mesma frase em que fala sobre os movimentos do não, e depois na altura da vitória sai-se com a pérola de que os católicos votaram sim. Qual a necessidade de provocar quando se ganha, e aonde é que ele arranjou essa estatística?

Confesso que sempre admirei Louçã e ele foi sem dúvida uma lufada de ar fresco na política nacional. Contudo, eu prefiro lembrar-me do Louçã do inicio, aquele que engrandeceu o bloco com a sua critica inteligente e mordaz, do que assistir à sua transformação no Octávio Machado da política a disparar para todos os lados com pouco nível e ainda menos sentido.

Sr Louçã, fica o agradecimento por ter sido o despertador do nosso povo. Por obrigar-nos a ouvir verdades inconvenientes, e a abrir os olhos perante centenas de injustiças que todos os dias assolam o nosso País. Contudo, perceba que o seu trabalho está acabado e que chegou a altura da renovação. Não se arraste, saia por cima!

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